Sunday, September 23, 2012

Contam-se três nuvens.

Hoje podia escrever alguma coisa se me tivesses dito que sim. 
Contam-se três nuvens da minha janela.
Acho que elas estão a olhar para mim
Cochicham segredos. 
Uma diz que me viu, a segunda que devia ser mentira.
A terceira sabe que é, porque me viu lá na ruela.
Não sabem elas que eu diria que sim.

Hoje podia escrever alguma coisa se me tivesses dito que sim.
Contam-se histórias e sentenças.
Acho que elas não sabem que são porque continuam a olhar para mim.


Daniela. 

Friday, September 7, 2012

Há dias intermináveis. Horas mortas e minutos asfixiantes. Há segundos em que respirar é mais fácil debaixo de água. Há espaços que não se preenchem e secalhar pertencem ao espaço mesmo, não haveria maneira de serem tão vazios, sendo eles de cá. Há dias e espaços que já acabaram à custa de mentiras, outros à custa de verdades. Há dias que acabam em minutos outros que se arrastam pelo asfalto quente em pele nua. Há dias em que eu ia respirar melhor dentro de água. Há dias em que eu ficaria melhor por saber que te ia magoar da pior maneira possível. Há dias em que me arrependo de o ter pensado. Entre "existências" intermináveis, existo eu e tu. E não passamos de espaços e tempos diferentes separados por verdades que tornam os minutos asfixiantes.

Ninguém diga que a verdade é sempre melhor, porque melhor ela não é. Digam que a verdade é uma vádia, porque ela rouba-te o melhor que tens, vai embora e ainda sorri. As mentiras são mais doces, tocam-te os lábios como chocolate e deixa,-te aconchegado.

Há dias intermináveis. Se for à rua como pretexto. Se disser que vou à rua porque está calor. Se isso for mais fácil, levanto-me da cama e vou. Se ficar aqui continuo gelada e quente de vergonha. A vergonha é como a verdade. E normalmente vem depois dela. Porque a verdade é a vádia, e ninguém tem orgulho de ser vádia. As vádias devem ter vergonha suponho. Diz-se que vendem o corpo e noutros tempos a alma. Cabras. A verdade é assim mesmo, uma cabra.

Há dias intermináveis. Este nunca mais acaba.

Daniela. 7.9.12
Blog do Domingos Amaral (sext 31.8.12). O homem gosta de escrever e escreve. E no outro dia escreveu isto. Ora não se engana.


"Homens e mulheres à volta da mesa, a conversa chega ao perturbante tema das traições. É possível perdoar? É possível esquecer? É possível uma relação sobreviver depois de um, ou ambos, terem sido infiéis? Há quem ache que sim, mas eu, que sou pessimista por natureza, acho que não. Para mim, é impossível esquecer, uma traição é um dano tão grave que nunca se apaga da memória. Os traídos, sejam homens ou mulheres, sentem-se humilhados, insultados, substituídos, e mesmo que amem a pessoa que os traiu, irão sempre recordar aquele dia em que foram os últimos a saber que estavam a ser encornados e o chão lhes fugiu debaixo dos pés. Nasce a raiva, não só à pessoa que nos traiu, mas uma raiva que se estende ao sexo todo. Mulheres traídas passam a odiar os homens, aquele e todos os outros; homens traídos passam a odiar as mulheres, aquela e todas as outras do mundo. Alguns nunca recuperam e tornam-se azedos. Em certas circunstâncias, dependendo da idade das pessoas, da importância que dão à família e aos filhos, pode tentar-se reconstruir a relação, e há casos em que isso se consegue. Mas a mim parece-me uma intenção impossível. Acho que a perda de confiança é irrecuperável, quem nos mentiu uma vez pode mentir a vida toda, e se aceitarmos essa situação estamos a enviar a mensagem errada ao traidor. Quem perdoa e continua, está a convidar os traidores a traírem mais outra vez. Quem trai e escapa impune, sente sempre um sentimento de orgulho individual, de auto-satisfação, e um dia voltará a sentir a mesma tentação. Não se aprende com os erros, aprende-se é a errar melhor, e assim quem traiu refina-se, torna-se ainda mais inteligente e volta a trair diminuindo as possibilidades de ser apanhado. Os seres humanos são assim, não há volta a dar-lhe. Além disso, existe nos traídos uma vontade de vingança que é uma bomba-relógio para o futuro. A vingança é muitas vezes uma necessidade, a única forma de recuperar a auto-estima perdida, e começa então o ciclo das traições. Ele traiu, depois traiu ela, ou ao contrário, e a história nunca mais acaba. Mais vale cortar o mal pela raiz e seguir em frente. Com a facilidade com que hoje se arranja outra pessoa, para quê ficar com quem nos traiu?"