Sunday, July 6, 2014

Faber- Castell

Sou incrivelmente mais aborrecida do que aquilo que realmente queria parecer.

Um bloco de inércia caiu-me aos pés.
Deve ter doído mais do que o que me consigo recordar.
As teclas do computador não parecem estar no sítio do costume e, hipoteticamente, conversando sozinha, estranho-me. Estranho-me. Vejo uma rapariga normal sentada ao meu lado que procura teclas onde não existem. Vejo uma rapariga rodeada de figuras brilhantes e rectangulares.

Alguns dias a criatividade foge-nos das pontas dos dedos, que há uns anos atrás, não seriam pontas e sim, curiosas colunas de carvão. Sempre preferi o carvão à tinta pegajosa da BIC. Por muito tempo porque o carvão se pode apagar mas a tinta não. Hoje sei que a razão é outra. O carvão toma jeitos que a tinta, pelo menos a tinta banal da BIC, não pode tomar - gosto de pensar que não! Gosto do raspar do carvão no papel. E consigo ser exigente no toca ao papel. Suave. Suave porque do mesmo modo que gostamos de ter alguém que nos oiça também gostamos de papel suave. Encontram aqui, portanto uma analogia entre o prazer de ter alguém que nos oiça e uma papel suave para o deslizar da ponta do carvão. O carvão é um composto que se obtém de repetições das mesmas ligações químicas, infinitas repetições químicas de carbono e que vendo bem, não passa de borrões nas mãos desajeitadas de quem já não o usa há muito tempo. Achava que ia conseguir manter a minha inquietude de pintar até ser velha.. Vejo aqui alguma saudade de reencontrar os meus lápis mágicos da Faber-Castell. Francamente graciosos. Acho que os perdi a todos ou a minha mãe simplesmente achou que não passavam de simples lápis de carvão e usou-os nos seus cadernos de culinária, copiando as receitas das vizinhas, que alguém lhes dê uso. Achava que os ia usar muito até só restar uma pontinha, agora provavelmente já nem existem. Acho que essa rapariga desapareceu juntamente com os Faber-Castell.

Daniela. 6 de Julho de 2014