Saturday, July 20, 2013

O futuro é um sacana.

   É quase meia noite e sei que o sono ainda vai demorar a chegar, quando chegar vou forçar os meus olhos a continuarem abertos pela curiosidade que esta estranha sensação me trás. 
Sei que a vontade de permanecer acordada vai passar, os meus olhos vão ceder e, daqui a unas dezenas de minutos vou estar sonolenta e naquela corda bamba que nos separa do apagão. Irrita-me não poder repetir este ciclo indefinidamente, o sono, o despertar, o levantar, o adormecer e dormir de novo. Não que deseje que a preguiça tome conta de mim! Isso, acho que já o faz vezes até demais para o gosto dos meus progenitores. Irrita-me saber que um dia não estarei cá para ver o que vai acontecer. Nao altero ou mudo a vida ou o mundo de alguém mas sou muito boa espectadora.  Irrita me saber que tudo se faz para enquadrar alguém ou o próprio em alguma coisa ou algum grupo, quando devíamos ser capazes de nos enquadrar neste grupo de agora, que o amanhã pode não estar presente. 
    O desespero por algo novo é suspeito de uma curiosidade inata do ser humano. Estúpido ser. Sabe que vive pouco mas ambiciona tanto. Sabe viver em alguns casos, sobrevive noutros, mas isto e outra história, na qual ainda ninguém meteu o dedo e fez mudar o curso, não me diz respeito pelo menos de um modo global. Isto é quase como meter o dedo na ferida dos moralmente correctos dos política a religiosamente sensatos. O presente diz-me apenas qualquer coisa, diz me que devo procurar a felicidade imediata, o que me satisfaça, mas na verdade dou por mim.... Agora já sentada na ponta da cama compreendo que o presente importa quando tem que importar, porque o que queria realmente era ver o a seguir, o que se vai passar depois, o pouco atingível, o que não se prevê. Chego a concluir que o meu instinto de sobrevivência está demasiadamente desenvolvido. Que a minha capacidade de de adivinhação deve ser um grande borrão no meu cérebro. Arranha-me esta sensação de termo, de finito, de conclusão, de final, de ... É um episódio que não aceito que termine, este aquele que já passou, o que esta para vir. Sinto os fins ásperos como a pele enrugada da água. É abominável a ideia de que tudo tem que ter um fim. 
   Às vezes esqueço-me que esta ideia de não querer finais é possivelmente a mais banal de todas... A bíblia dos nossos avós não aceitava um fim. Estou a tornar me religiosa ainda que não me interesse saber o que os deuses andam a tramar para este ou aquele. 
    O passado não tem piada, é um monte de histórias que deixa nobres corações a chorar de alegria ou tristeza. O passado arrasta-se com um tédio que zanga todos aqueles que querem mudá-lo. O futuro é um sacana que gosta de se vangloriar, com razão, porque sabe que podemos mudá-lo ou não. Pode estar escrito ou não, ao contrário do passado, que fica escrito por linhas bastante tortas. Que ninguém conhece mas todos queriam ter o prazer de se deitar com ele. O futuro é aquele que irrita aqueles que o querem conhecer e que raramente, só raramente deixa que o cumprimentem com um beijo no rosto.
 Só quero saber o que vai acontecer e pronto. Se estaremos por cá, porque se não estivermos, tudo bem.

Daniela, Julho 2013.



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